Do Adamastor ao Lux

Quinta-feira, seis da tarde no escritório da agência de propaganda onde eu trabalhava em Lisboa. É verão e o meu telefone toca. Eu atendo, o diálogo é rápido e seguindo de mais alguns telefonemas que vou repassando para outros camaradas. Meia hora mais tarde, estamos sentados com o Tejo e o Porto de Lisboa à nossa frente, dezenas de turistas, a maioria estudantes europeus em férias, e a luz maravilhosa com que a natureza premiou Lisboa. Dividindo o horizonte em antes e depois, a imponente ponte Vasco da Gama. Estou no Miradouro de Santa Catarina ou, para os mais íntimos, no Adamastor, final do Bairro Alto, bem ao lado do Bairro da Bica. Começava ali a longa noite. Depois do Adamastor, a próxima parada era o Wip, no Elevador da Bica. O Wip era (não sei se ainda é) uma espécie de 3 em 1, onde você podia cortar o cabelo, comprar umas roupas descoladas e tomar uns copos, localizado num antigo armazém. A calçada e a rua eram o ponto de encontro da moçada cool de Lisboa. Ao passar da meia-noite, a pergunta começava a circular: "quem vai pro Lux... quem vai pro Lux?". O Lux é um daqueles lugares inesquecíveis por onde passei. A quinta era a minha noite predileta. Ao chegar, já era tratado com o deferimento devido a quem é da casa. Mesmo quando havia filas enormes, o segurança sinalizava para que eu abrisse passagem entre os pobres mortais e furasse a fila. No bar da parte superior, onde eu ficava até que a pista de dança abrisse, bastava me aproximar que já ouvia o familiar "vodca com limão?". Era linda aquela menina. Até dediquei-lhe um poema quando voltei para o Brasil. Depois da tradicional perigrinação pelos diferentes ambientes que formam o Lux, tempo também para apreciar os móveis e a decoração, chegava a hora de descer para a pista onde, de tanto frequentá-la, já conhecia os meus pares. Era como uma pequena irmandade que se encontrava religiosamente, nas madrugadas de quinta pra sexta, sob o globo que iluminava a pista. Fervia até as sete da manhã. Na saída, alguns dos taxistas já me conheciam, o que tornava tudo mais simples. Sentava-me no banco traseiro e ouvia: "pode dormir, quando chergarmos eu acordo o senhor". E eu dormia até a chegada ao meu destino: Cascais. Recentemente, quando voltei a Lisboa, para gravar alguns programas para o Canallondres, só consegui refazer o início da minha velha tour. Do Adamastor, tomei outra direção. Resistir, foi a prova definitiva de que estou aposentado das baladas. Mas fica aqui a dica para quem é jovem, cheio de energia, na sua próxima passagem pela bela e inesquecível Lisboa.




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